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terça-feira, 26 de abril de 2011

Psicologia e a 7ª arte - Reflexão sobre o filme 'Juno'

Segundo Kohlberg (1981), a adolescência caracteriza-se por ser um período de construção de valores sociais e de interesse por problemas éticos e ideológicos. O adolescente aspira à perfeição moral e expressa um grande altruísmo o que frequentemente origina revoltas por descobrir que a sociedade não se coaduna com os valores que defende. O facto de possuir novas capacidades cognitivas de reflexão e abstracção ir-lhe-á permitir, elaborar mentalmente hipóteses, debater ideias e confrontar opiniões, construindo uma teoria própria da realidade. O adolescente confronta os seus próprios valores com os valores do ´mundo adulto´, na tentativa de alcançar a tão desejada autonomia. Para tal ajuíza regras e convenções sociais, o que leva, por vezes, a acatá-las e, por outras, a desobedecê-las.
            A sexualidade é a grande descoberta da adolescência. (Zagury, 1996). O filme ‘Juno’, sobre o qual incidirá a nossa reflexão, narra o despertar sexual dos jovens e aborda com franqueza um problema da actualidade; a gravidez indesejada na adolescência. Retrata assim a história de uma jovem que se encontra neste período de desenvolvimento.
            Juno (Ellen Page), uma adolescente de 16 anos, após ter tido relações sexuais com Bleeker (Michael Cera) engravida. Tendo em conta a sua imaturidade, Juno depara-se com situações muito difíceis de lidar.  Após ter comprado 3 testes de gravidez no mesmo dia e perceber que era impossível continuar a negar a realidade, confronta-se com a ideia de realizar um aborto, por forma a solucionar o problema. No entanto, por achar que o ser que está a gerar dentro dela não tem culpa do seu ''erro'', Juno decide procurar os pais adoptivos perfeitos.
Inicialmente reage de forma típica para uma adolescente; demonstrando uma atitude de insensibilidade e desinteresse. Sente-se capaz de resolver qualquer problema e chega mesmo a mencionar: “Para mim é como se estivesse doente e isto passa”. Com o tempo passa a encarar a situação de forma diferente, superando-a da melhor maneira possível.
     A adolescência é um período em que a experimentação se torna necessária na busca e na aquisição de uma identidade (Erikson, 1976). Esta busca de identidade é um aspecto que se visualiza na jovem. Numa conversa com o pai, Juno desabafa: “Eu não sei muito bem ainda que tipo de rapariga sou”.
            De facto é complicado para alguém que se encontra à descoberta de si mesmo, numa fase conturbada e marcada pelo egocentrismo ter que assumir a responsabilidade de cuidar de outro alguém.
            Segundo Deutsch (1977), o fenómeno da gravidez na adolescência é decorrente de imaturidade psíquica com certa disposição para reviver processos regressivos na adolescência e, principalmente, pela exigência do amadurecimento. A gravidez de Juno faz com que esta se redescubra e amadureça. À medida que o seu corpo se vai transformando e que vai convivendo com os futuros pais adoptivos do seu filho, a jovem vai-se transformando; descobre o verdadeiro sentido da amizade, percebendo quem verdadeiramente a apoia durante a gravidez, sem preconceitos.
No contexto familiar um aspecto importante a referir é a atitude do pai de Juno. Este aceita a gravidez, assumindo no entanto não estar preparado para encarar a situação. Com o desenrolar do tempo ele acaba por assumir o papel de figura paterna ajudando-a a lidar com os seus medos e inseguranças.
A jovem não possui um modelo de figura materna, perdeu a mãe aos 5 anos e mantem uma relação de antipatia com a madrasta.
A nível psíquico depreende-se que há um relacionamento entre o abandono materno a que foi sujeita, e o  abandono do seu próprio filho. Juno procura os pais adoptivos perfeitos por forma a ter a certeza que o seu filho não viverá desamparado. Esta atitude está visivel numa das cenas do filme, em que Juno deixou um bilhete a Vanessa Loring (mãe adoptiva) dizendo: 'se tu não desistires, eu também não desisto.'
Para além de Juno, a família da adolescente também sofre uma transformação. Isto visualiza-se na relação entre a jovem e a sua madrasta. Através do envolvimento desta última nos cuidados pré-natais, começa a desenvolver-se uma relação de cumplicidade e, de inimigas, passam a companheiras. Com isto, a madrasta de Juno assumiu o papel de 'figura materna'. 
 O filme levanta várias questões pertinentes, não tenta seguir estereótipos e deixa que o espectador retire as suas próprias ilações. É um filme divertido, sarcástico, complexo a nível de valores onde podemos confrontar-nos com vários assuntos, tais como: a adolescência, a gravidez, o aborto, a adopção, o anseio de ser mãe, os problemas entre casais, os problemas familiares, o primeiro amor, a sexualidade,  a discriminação na escola, entre outros.

Fica então aqui a nossa sugestão, é um filme que vale a pena ver!




Bibliografia consultada:

            Sousa, P. (2006). Desenvolvimento Moral na adolescência. Acedido em 26,Abril,2011, em: http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0296.pdf
            Pereira, L. (2008). Crítica Juno (2007). Acedido em 26, Abril, 2011 em: http://portalcinema.blogspot.com/2008/02/crtica-juno.html

5 comentários:

  1. Muito bom, de facto, este é um dos temas principais da adolescência e que, nos dias de hoje, cada vez mais acontece. Muito bom trabalho, continuem assim!

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  2. Gostei da vossa crítica só acho que deviam também ter evidenciado a relação a Vanessa e o bebé poderão vir a ter visto que a Vanessa vai ser a mãe adoptiva. De resto está tudo muito bo, continuem!

    Maria Luis
    passem também no nosso: http://psiscd.tumblr.com/ obrigada!

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  3. Olá Maria, acabamos de realizar um novo post de acordo com a tua sugestão.

    Beijinho.

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  4. O filme em discussão é muito rico em temáticas, foi uma óptima escolha. A vossa crítica é muito boa. Demonstra uma postura consciente e reflexiva. Continuem, beijinhos!

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  5. OLÁ, Aqui fica o meu comentário: percebo que procuraram estabelecer uma relação entre a vossa leitura do filme “Juno” e alguns autores. Contudo, essa articulação nem sempre é muito clara. Por exemplo, se citam Kohlberg a propósito do filme, parece-me que faria sentido explicar qual a relação, porquê, qual a pertinência, etc.
    Apesar disso, não há dúvida que procuraram ter uma abordagem teoricamente mais fundamentada e vários dos pontos-chave do filme foram considerados na vossa análise. Acho que deram um bom passo no vosso blog.
    Até à próxima,
    GP

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